AUTOGRAFTS IN ALOPECIAS AND OTHER SELECTED DERMATOLOGICAL CONDITIONS.
Norman Orentreich. Annals New York Academy of Sciences, 1959.
Paulo Müller Ramos, MD, PhD
Os conceitos de dominância da área doadora (quando o enxerto mantém a sua integridade independentemente da área em que é transplantado) e de dominância da área receptora (quando o enxerto assume as características da região onde foi transplantado) foram definidos de maneira muito clara pelo Dr. Orentreich em seu estudo seminal publicado em 1959.1
Nesse estudo, foram avaliados 65 pacientes com diversas condições dermatológicas: 52 com alopecia androgenética (chamada no artigo de alopecia prematura), 9 com alopecia areata, 3 com alopecias cicatriciais e 1 com síndrome do nevo de cabelo lanoso.
Em todos os pacientes foram coletados punchs das áreas cometidas pelas doenças e em áreas saudáveis. Esses enxertos foram transplantados da seguinte maneira:
1) enxertos normais para áreas normais
2) enxertos normais para áreas acometidas
3) enxertos comprometidos para áreas normais
4) enxertos comprometidos para áreas acometidas.
A dominância da área doadora foi observada em todos os casos de alopecia androgenética. Ou seja, enxerto com cabelo em área com cabelo, cresceu cabelo. Enxerto com cabelo em área calva, cresceu cabelo. Enxerto calvo em área calva, permaneceu calvo. Enxerto calvo em área com cabelo, permaneceu calvo. O crescimento dos fios ocorreu de 2 a 3 meses após o procedimento e os resultados foram mantidos mesmo após 2 anos e meio de seguimento.
Essa mesma dominância não foi observada nos pacientes com alopecia areata e com alopecias cicatriciais. A avaliação de 4 dos 9 casos de alopecia areata foi prejudicada pois a doença avançou para as áreas que foram inicialmente consideradas como sadias. Nos 5 casos restantes, houve crescimento de fios finos e esparsos. Nos 3 pacientes com alopecias cicatriciais, houve crescimento parcial em 2 casos e crescimento ótimo em 1 caso.
Interessante observar que além de evidenciar quais tipos de alopecias são passíveis de tratamento com transplante capilar, o texto traz importantes considerações em relação a fisiopatologia das doenças estudadas: “A calvície masculina é inerente a cada folículo piloso individual. Provavelmente cada folículo individual é geneticamente predisposto a responder ou não a androgênicos e/ou outras influências que inibem seu crescimento. Na alopecia areata, o bulbo capilar parece ser impedido de prosseguir além do estágio comparável de anágeno IV e falha para produzir cabelos morfologicamente normais”.
Os mecanismos hormonais da alopecia androgenética2 e imunológicos da alopecia areata3 foram desvendados detalhadamente apenas décadas após a publicação desse texto, porém a possibilidade ou impossibilidade de tratar cada uma dessas entidades com transplante de unidades foliculares foi estabelecida de maneira definitiva com esse estudo. Por isso, Orentreich é reconhecido como pioneiro do transplante capilar.
Paulo Müller Ramos, MD, PhD
Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo – UNESP
Coordenador do ambulatório de Tricoses da UNESP
REFERÊNCIAS
Orentreich N. Autografts in alopecias and other selected dermatological conditions. Ann N Y Acad Sci. 1959 Nov 20;83:463-79.
Kaufman KD. Androgens and alopecia. Mol Cell Endocrinol. 2002 Dec 30;198(1-2):89-95.
Gilhar A, Etzioni A, Paus R. Alopecia areata. N Engl J Med. 2012 Apr 19;366(16):1515-25.
Folículo - Edição 25