O 5º International World FUE Institute (WFI) Workshop marcou a retomada dos eventos presenciais da WFI após o início da pandemia por Covid-19, nos dias 2 a 5 de junho na Clínica Asmed, em Istambul - Turquia. Realizado de forma híbrida, presencial e online, o evento contou com a participação de mais de 250 cirurgiões capilares inscritos de todo mundo, sobretudo com a presença importante de brasileiros nas aulas teóricas e práticas.
Dr. Koray Erdogan, presidente da WFI, sediou o Workshop em sua clínica Asmed, onde foram administradas aulas teóricas e cirurgias ao vivo, em centro cirúrgico próprio com 10 salas cirúrgicas totalmente equipadas.
O primeiro dia foi iniciado com uma bela homenagem ao Dr. Mario Marzola, especialista em restauração capilar há mais de 20 anos e pioneiro em muitas técnicas que são utilizadas atualmente. Dentre os temas abordados da história da técnica Follicular Unit Excision (FUE), sedação e anestesia local, chegamos a atualizações e novidades, como o ensaio clínico randomizado duplo-cego apresentando por Dr. Yuri Perdomo sobre ácido tranexâmico como rotina para redução do sangramento intraoperatório, realizado no centro de pesquisa da Clínica Sanabria (“Evaluation of Efficacy of Systemic Tranexamic Acid administration in Hair Restoration Surgery – a double-blind, randomized, clinical trial”) e o relato de experiência de Dr. Alejandro Chueco para redução de micro-hematomas (“Tranexamic Acid in the Preoperative of Hair Transplant: Conclusion of 2 years use”).
Compondo a mesa de discussão com especialistas, tivemos a participação do Dr. Jae Hyun Park, apresentando seu novo dispositivo para extração de unidades foliculares (UF): “GraMAXTM”, com opção de disparar os movimentos com pedal ou com botão na própria caneta.
Dr. Koray Erdogan e O. Urhan apresentaram o Kebot, um sistema robótico de análise do couro cabeludo para FUE, programado para analisar a área doadora antes e após o transplante capilar. Kebot é composto por 2 câmeras: a primeira cria um modelo 3D do crânio e traça a rota para o sistema robótico capturar imagens em alta resolução. O segundo sistema de câmeras está equipado com uma câmera de alta resolução, uma sofisticada lente bi-telecêntrica e um anel de iluminação de design personalizado. Uma vez que o modelo 3D da cabeça é criado usando a primeira câmera, o segundo sistema de câmera é posicionado a uma certa distância do couro cabeludo e começa a capturar imagens de alta resolução a 18Mpixel, o que dá uma resolução física de 5 mícrons. O sistema de câmera é movido usando um braço robótico para cobrir toda a cabeça. E, ao final desse processo, são obtidas mais de 400 imagens de alta resolução. A resolução total dessas imagens é de cerca de 8 gigapixels. Após a captura, as fotografias são analisadas através de um sistema complexo de algoritmos. Na primeira etapa da análise pré-operatória, o Kebot conta o número de folículos e o número de fios por unidade folicular. Além disso, o diâmetro da haste é medido usando outra abordagem baseada em algoritmos. Como a medição de área proveniente dos dados 3D também está disponível, o Coverage Value (CV) pode ser calculado para toda a cabeça. Desta forma, a capacidade total da área doadora é determinada. Para a análise pós-operatória, o paciente é escaneado novamente após a cirurgia. Também foi apresentado o Kebot-mobile, sistema móvel de lentes para acoplar à câmera do celular, que avalia a área doadora em cinco locais e calcula o Coverage Value, em aplicativo baixado na App Store.
Ainda sobre novas tecnologias, foi apresentada a Robopen, pela Acarinstruments do Dr. Levent Acar, de Istambul, como o primeiro dispositivo automatizado e portátil de incisões do mundo. Aparelho motorizado, com sensores que contam o número exato das incisões realizadas, com controle de três velocidades diferentes.
Dr. Tony Ruston discutiu sobre casos de cirurgia reparadoras, correção de linha de frente com aparência não naturais (“FUE repair case: hairline and depleted/heterogeneous donor áreas”).
Ressaltou também a importância do tratamento clínico em pacientes com alopecia androgenética, apontando o uso de Finasterida como tratamento de rotina adjuvante ao transplante capilar (“Why I no longer operate patients who refuse to take finasteride”), pauta reforçada pela Dra. Anna Cecília Andriolo (Importance of Clinical Treatment for the HT Surgery Result Maintenance).
Dr. Baek Hyun-wook, de Seoul, também salientou que não opera pacientes que não estejam sob tratamento com finasterida por ao menos 6 meses.
O evento cumpriu-se com maestria através de aulas aprofundadas e detalhadas com outros representantes nacionais compondo a cadeira de palestrantes:
- Dr. Baltazar Sanabria (“Oral minoxidil in alopecia” e “Body hair transplant complications: my experience”);
- Dra. Maria Angélica Muricy, com aulas em vídeo (“FUE in Women” e “Beard as donor área”);
- Dr. Fernando Basto (“Hairline design main differences between male and female”);
- Dr. Carlos Calixto (How to repair scalp trauma sequela with fat grafting and hairtransplant: a case report”);
- Dr. Márcio Crisostomo (“FUE + BHT for na extended repair case”)
- Dra. Maira Merlotto (“Psoriasis and HT, a case and review of literature”).
De forma geral, tivemos aulas interessantes e enriquecedoras sobre casos reparadores, técnicas de correção de linha de implantação frontal com extração manual, motorizada e com depilação por lasers.
No segundo dia tivemos a participação do Dr. Alex Ginzburg sobre transplante alogênico entre dois irmãos não gêmeos (“Revolutionary and unusual HT: 2 non twin brothers experience”). Um dos irmãos apresentava um quadro de alopecia cicatricial por Líquen Plano Pilar, estabilizado com tratamento clínico e submetido ao transplante alogênico pela técnica FUE. O paciente está sendo acompanhado, atualmente, com mais de 12 meses de pós-operatório. Contudo, o irmão receptor apresentou lesões pápulo-eritematosas tardiamente em local transplantado, com resposta parcial à antibioticoterapia sistêmica.
Marie Schambach apresentou um estudo clínico a respeito da eficácia da técnica FUE como opção terapêutica para hiper-hidrose axilar (“Elimination of Sweat Glands Using the FUE technique: a Pilot Study Showing its Potential Use for Axillary Hyperhidrosis"), conforme já apresentado no congresso da ISHRS em Lisboa. Nesse estudo, M. Schambach evidenciou diminuição de cerca de 50% do quadro de hiper-hidrose axilar através da aplicação da escala de severidade específica antes e após seis meses do procedimento. Resultado promissor, trazendo a técnica FUE para o arsenal terapêutico da condição.
Ron Shapiro discorreu sobre o papel dos exossomos como opção terapêutica regenerativa associada ao transplante capilar (“Exosomes and FUE”). Os exossomos são vesículas extracelulares envolvidas no processo de sinalização celular, com potencial de influenciar na diferenciação, homeostase e organogênese. A utilização do mesmo, ainda que restrito a protocolos de pesquisa, tem se mostrado emergente e promissor como procedimento adjuvante para tratamento de alopecias. Estudos e ensaios clínicos são fundamentais para determinar a eficácia do tratamento.
Maria Angélica Muricy palestrou sobre a utilização recorrente dos pelos da barba como importante área doadora para a cirurgia de restauração capilar associado à extração de folículos do couro cabeludo, sobretudo em casos de calvície avançada (“Beard as Donor Area”). Cada vez mais tem se notado a utilização da barba como complemento da área doadora, até mesmo em pacientes virgens de tratamento cirúrgico.
O terceiro e último dia foi dedicado a cirurgias ao vivo, com demonstrações interessantes e enriquecedoras de casos reparadores por Dr. Tony Ruston, Dr. L. Acar, Dra. M. Schambach; transplante de cílios com Dr. B. Feriduni; transplante de sobrancelha com R. Rodriguez; FUE com fio longo com Dr. Roberto Trivelilini, Dra. Laura Caceido e Dr. L. Mocada; realização de PRP com Dr. Anil Garg, entre outras que observamos diferentes modos de extração: Manual, motores diferentes. Implantação de fio longo, sharp implanters, incisões prévias manuais e com Robopen.
Finalizamos com eventos sociais de muita interação e amizade entre colegas internacionais. Partiremos agora para o nosso esperado Congresso Brasileiro da ABCRC, em julho de 2022, no Rio de Janeiro!
Baltazar Dias Sanabria1; Maira Renata Merlotto2; Yuri Chiarelli Perdomo3
- 1 Médico Dermatologista pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
- 2 Médica Dermatologista pela Universidade Estadual Paulista (UNESP)
- 3 Médico Dermatologista pela Faculdade Estadual de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP)
Folículo - Edição 25