Dr. Rubem Mateus Campos Miranda e Dra. Marina Barletta
O artigo de revisão “A Systematic Review of Outcome of Hair Transplantation in Primary Cicatricial Alopecia” tem o objetivo de reunir os trabalhos publicados que abordam o tema em questão. De uma seleção de 359 artigos, 14 foram selecionados para o estudo, sendo 6 relatos de caso e 8 estudos de casos, totalizando 34 pacientes com alopecia cicatricial primária que foram submetidos a transplante capilar.
As técnicas utilizadas para realização do transplante foram FUE (7 estudos), FUT (3 estudos) e uso de enxertos com punchs maiores (punch grafts) (5 estudos), não sendo abordado nesta revisão se a técnica influenciou no resultado.
Dentre os trabalhos, o tempo de estabilidade da alopecia variou de 2 a 5 anos para posterior realização da abordagem cirúrgica. Em alguns casos a abordagem foi realizada na vigência de tratamento e em outros foi iniciado apenas minoxidil 5% tópico no pós operatório. O seguimento dos casos variou de 6 meses até 4 anos. Em apenas um trabalho foi realizado previamente uma pequena sessão de transplante capilar (um teste utilizando punch grafts) com crescimento satisfatório após 4 meses, sendo realizada nova abordagem em seguida, porém sem descrever qual seria a alopecia cicatricial em questão.
Quanto aos resultados, os trabalhos mostram uma melhor taxa de crescimento nos casos de alopecia cicatricial central centrífuga, lúpus discoide, esclerodermia, pseudopelada de Brocq e foliculite decalvante, quando comparado com líquen plano pilar e alopecia frontal fibrosante.
A análise do trabalho nos leva a inúmeros questionamentos sobre a abordagem cirúrgica das alopecias cicatriciais primárias.
1- Existem pouquíssimas publicações sobre o tema.
2- A dificuldade em definir a estabilidade da doença e ainda qual o momento ideal para realizar a abordagem.
3- Se há ou não necessidade de realizar uma abordagem cirúrgica menor, para analisar se há um crescimento satisfatório para aí sim, realizar o transplante completo.
4- Se mesmo a doença estando estável, se seria mandatório manter o tratamento clínico e até associar outros medicamentos como minoxidil, por exemplo, tentando otimizar o resultado final.
5- Provavelmente os resultados negativos nas alopecias cicatriciais primárias não são publicados, ou há perda de seguimento nestes pacientes.
Baseado nestes questionamentos e no aumento da incidência e dos diagnósticos das alopecias cicatriciais primárias, é importante que o cirurgião da restauração capilar realize análise prévia minuciosa com tricoscopia tanto da área de alopecia quanto da área doadora, objetivando definir ou excluir um diagnóstico de alopecia cicatricial, para aí sim, definir a abordagem terapêutica clínica e/ou cirúrgica mais adequada. Com o diagnóstico precoce é possível evitar a progressão da alopecia e fazer um planejamento a médio/longo prazo de um transplante capilar. Mas um transplante capilar em uma área de alopecia cicatricial primária sem tratamento prévio pode levar a um resultado desastroso.
- Por Dr. Rubem Mateus Campos Miranda - dermatologista
Neste outro artigo publicado este ano, “Successful Clinical Treatment in a Case of Lichen Planus Pilaris after Hair Transplantation”, os autores descrevem um caso clínico de um paciente pós-transplante capilar que, após dois anos, desenvolveu sinais clínicos e tricoscópicos de Líquen Plano Pilar (LPP) confirmado por anatomopatologia que respondeu de forma satisfatória ao tratamento clínico após diagnóstico. O tratamento e o diagnóstico precoce de LPP neste caso foram essenciais para recuperar a densidade perdida e manter o resultado do transplante capilar.
Este artigo nos leva à discussão a respeito da importância do cirurgião capilar no conhecimento das alopecias cicatriciais. Evidências recentes apontam que os pacientes de LPP e Alopecia Fibrosante Frontal podem apresentar lesões sub-clínicas de inflamação perifolicular e que a cirurgia pode ser gatilho para ativação da doença, inclusive em pacientes clinicamente estáveis. Por isso, o LPP é um grande desafio para o cirurgião de restauração capilar e novos estudos precisam ser desenvolvidos para entendermos melhor a fisiopatologia da doença e buscar métodos para diagnóstico preciso e o momento ideal de realizar a cirurgia.
- Dra. Marina Barletta – dermatologista
Folículo - Edição 25