Por Dr. Henrique Radwanski
Nesta edição, vou recordar alguns artigos que marcaram a literatura da restauração capilar, dando destaque a dois eminentes colegas brasileiros: Marcelo Gandelman e Carlos Uebel. Reconhecidos por seus pares, estes dois cirurgiões plásticos influenciaram os colegas que se dedicavam ao transplante capilar com suas ideias e técnicas inovadoras. Ambos foram homenageados pela ISHRS, como seu presidente (Gandelman) e como laureado com o prêmio Platinum Follicle Award (Uebel). Temos que lembrar suas importantes contribuições na literatura médica.
Em tempos de Instagram, cada um diz o que bem lhe convém. Nos surpreendemos, quase que diariamente, com posts de fulano que diz que “fez a primeira megassessão em FUE no Brasil”, outro que é “pioneiro em transplante de sobrancelha”, e ainda outros que dizem que estão trazendo para o Brasil “técnicas inovadoras”. Conhecer a história é recordar fatos.
Há exatos 30 anos, Marcelo Gandelman, cirurgião plástico de São Paulo e conhecido pela sua criatividade, apresentava sua experiência no transplante de áreas chamadas “atípicas”. Ou seja: qualquer região anatômica fora do couro cabeludo. No primeiro meeting da ISHRS, em Dallas, 1993, ele apresentou o tema “Hair transplantation in other parts of the body” demonstrando reconstrução de sobrancelhas e de cílios, restauração do bigode em cicatrizes de lábio leporino, e a criação de barba e transplante de pelos no tórax. Subsequentemente, participou de uma série de vídeos publicada pela revista FORUM, produzindo um filme em videocassete sobre transplante de supercílios. Em 1994, Gandelman publicou (também na revista FORUM) o artigo “Eyebrow Transplantation”, em que descrevia a correta inclinação e distribuição dos fios em forma de espinha-de-peixe, desenho esse que é repetido em qualquer aula sobre a restauração dos supercílios. Em seguida, no mais importante livro da cirurgia da restauração de cabelo, Hair Transplantation, editado pelo Prof. Walter Unger, escreveu o capítulo “Eyebrow and eyelash transplantation”.
Carlos Uebel, cirurgião plástico de Porto Alegre e com grande influência da Escola Ivo Pitanguy, publicou, em 1991, na importante revista Annals of Plastic Surgery, sua sistemática em transplante capilar. Com resultados impressionantes para a época, mostrou como era possível fazer uma sessão com mais de 1.000 enxertos, um recorde. Baseando sua metodologia nos trabalhos precursores de Maritt e Nordstöm, e antes da descrição das unidades foliculares, Uebel utilizava os micro-grafts (mais delicados) para construir uma linha frontal natural, e os mini-grafts mais atrás, para dar a densidade necessária. Com sua técnica de hiperinfiltração da área receptora (denominada scalp ballooning), diminuía o sangramento e assim encurtava o tempo de implantação.
Marcelo Gandelman e Carlos Uebel são apenas dois brasileiros que se destacaram na restauração capilar. Mais tarde, outros nomes trouxeram importantes contribuições, seja em artigos ou apresentações: José Cândido Muricy (BHT), Marcelo Pitchon e Ricardo Lemos (fio longo), Mauro Speranzini (DNI, técnica de extração das unidades foliculares), Arthur Tykocinski (Fight the FIGHT), Antônio Ruston (coverage value), Márcio Crisóstomo (técnica combinada), Maria Angélica Muricy Sanseverino (FUE não raspado), Fernando Basto (desenho de linha anterior), Carlos Eduardo Leão (barba, importância da linha temporal), Luciana Takata (reconstrução pós-escalpelamento), Ito Meireles (punching out technique), entre outros. São nomes que a sociedade internacional reconhece como líderes, aqueles que acrescentam importantes ideias e avanços, sempre seguindo os princípios da investigação científica, e publicando em revistas peer reviewed. Em tempos de mídia social, em que novidades acontecem diariamente, e a fama adquirida é efêmera, é fundamental reconhecer o trabalho sério daqueles que tiveram inspiração e – principalmente – transpiração para o avanço da restauração capilar.