De 12 a 15 de outubro, a ABCRC realizou o Workshop Afro Hair em Salvador, na Bahia. A entidade reuniu um número importante de cirurgiões estrangeiros e brasileiros, todos com experiência nesse tipo de cabelo, que é considerado um dos mais difíceis para transplantar.
Confira, a seguir, o depoimento de alguns participantes e professores do evento!
“No evento, chamou a atenção a expertise de alguns colegas no tratamento das doenças do couro cabeludo. A Dra. Osei Tutu ministrou várias aulas sobre as patologias do couro cabeludo afro e mostrou como são complexas e desafiadoras estas doenças. A experiência dela chamou a atenção, pois se dedica quase que exclusivamente ao tratamento de mulheres.
O estilo do penteado, principalmente a tração do couro cabeludo, faz parte da cultura dessas pacientes e, por isso, a importância de conhecer muito bem as possibilidades de mudança sem alterar significativamente o tipo de penteado e estilo de cabelo que as pacientes querem usar.
Também, quando realiza cirurgia, faz exclusivamente a técnica FUT, por ser mais fácil a dissecção dos fios curvos em comparação a técnica FUE, e também pelo fato de não raspar o cabelo das pacientes.”
Dr. Alan Wells
“Posso dizer que participar do Workshop Afro Hair em Salvador foi uma oportunidade única!
Tive o privilégio de aperfeiçoar meus conhecimentos sobre o cabelo afro com dermatologistas e cirurgiões plásticos renomados em Cirurgia de Transplante Capilar de todo o Brasil e do mundo.
Durante o evento me chamou a atenção uma aula comparando o paciente caucasiano e afro no ambiente clínico, apresentada pelo Dr. Francisco Le Voci. Algo super válido no nosso dia-a-dia, já que o cabelo afro tem suas particularidades o que o torna tão desafiador!
Outra aula bem interessante foi a apresentada pela Dra. Flávia Dias sobre Transplante e Alisamento de sobrancelhas. Foi discutida cada etapa da cirurgia, como: marcação cirúrgica, distribuição de densidade, escolha de zona doadora, extração, lapidação, anestesia e implantação. Um tema super relevante já que vivemos um boom de profissionais que estão se aventurando nessa área específica.
No último dia, foram realizadas cirurgias ao vivo e podemos comparar diferentes tecnologias e aparelhos na cirurgia FUE.
Este foi meu segundo ano consecutivo participando dos eventos da ABCRC e com certeza o próximo evento de 2024 já tem espaço reservado em minha agenda!
Dra. Carla Cioni
“De 12 a 15 de outubro, Salvador-BA nos recebeu de braços abertos para a realização do primeiro Workshop Afro Hair do mundo.
A programação social foi marcante, incluindo um tour por belos pontos turísticos da cidade, onde pudemos renovar nossas energias com todo o Axé do povo baiano. A programação científica reuniu professores estrangeiros e brasileiros, que compartilharam suas experiências de restauração cirúrgica para pacientes com cabelo afro.
O workshop contou com cirurgias ao vivo, mostrando a habilidade dos cirurgiões, cada um com sua experiência. Tivemos a oportunidade de verificar a atuação de duas máquinas diferentes (Mamba – Trivellini e Zeus System) para comparação em um mesmo paciente. Mesmo com cirurgiões e máquinas diferentes para a mesma cirurgia, verificamos que os resultados são semelhantes com relação a qualidade da extração.
Dentre todas as importantes contribuições apresentadas, destaco a aula teórica e cirurgia ao vivo conduzidas pelo Dr. Ito Meireles, que compartilhou sua técnica autoral de planejamento e sistematização para reconstrução de barba. Essa técnica, baseada em alcançar a naturalidade, mostra a distribuição uniforme das unidades foliculares para preencher regiões com menor densidade, até construção de regiões com irregularidades naturais, denominadas pelo autor como: “três picos de montanhas”.
Certamente o evento foi enriquecedor tanto para os iniciantes como para os experientes na área.”
Dr. Flavio Abboud
“Para mim, os dois pontos altos do evento foram:
Assistindo à apresentação da colega Tutu de NYC, dizendo que 90% da sua clientela é composta por mulheres afro e que atende casos de alopecia cicatricial toda semana. No passado, ela via 1 ou 2 por mês, agora é semanalmente vários casos;
Meena falando como aborda as mulheres com alopecia de tração: importante é não causar nenhum constrangimento, a importância de ser amigo da paciente e entender o hábito de fazer tranças. O jeito é compreender e ficar do lado da mulher.”
Dr. Henrique Radwanski
“Em um ambiente de muita troca e aprendizado, foram abordados diversos temas relacionados ao cabelo afro, que é um desafio até para os cirurgiões mais experientes.
Um assunto muito abordado nas aulas foram as peculiaridades do cabelo afro, motivo pelo qual se criou um congresso à parte só para esse assunto, e de como as novas tecnologias estão evoluindo neste sentido para que se diminua a taxa de transecção nestes casos - haja visto que os cabelos afro possuem uma curvatura muito acentuada em comparação ao caucasiano; então, o uso dos punchs corretos associados a uma boa tecnologia comprometem o resultado da extração. Os temas foram abordados nas aulas do Dr. Maldonado, da Colômbia, Dr. Sanusi Umar, dos EUA (criador do aparelho Zeus), Dr. Alan Wells e da Dra. Marta Zollinger, referência em cabelo afro no Brasil. Pudemos comparar na prática, utilizando as duas tecnologias de ponta na atualidade, o Mamba e o Zeus, e com uma equipe de excelência, com nomes como Allan Wells, Christine Guimarães, Veruska e Marta; pudemos analisar a qualidade dos enxertos, a taxa de transecção e a cicatriz na área doadora.
Outro assunto que trouxe bastante interesse foi sobre o transplante de sobrancelha, ministrado pela Dra. Flávia Dias, que mostrou de maneira muito técnica todo passo a passo desde a métrica necessária para o desenho natural, como deve ser feita a extração com o fio longo, para obter uma maior facilidade no desenho e a implantação para que essa ocorra no sentido certo e não comprometa o resultado, ainda alertou que complementos futuros são com frequência necessários.
Dr. Ito, com seu vasto conhecimento na área de transplante de barba, trouxe a explicação de sua técnica descrita de “pico de montanhas”, mostrou como deveria ser a distribuição de fios e como faz sua marcação em região de mandíbula e mento, o que pudemos ver ao vivo na cirurgia realizada.
Dr. Alejandro Gonzalez também contribuiu com o tema: como começar o Long Hair, que é um desafio, com uma curva de aprendizado lenta, mas que acredito que seja uma evolução para o FUE, e que, com a prática, aumentaremos progressivamente a quantidade de enxertos extraídos e a velocidade na execução. Foi muito interessante observá-lo atuando na prática com Dr. Anastasio e Dra Ozlem.
Aulas sobre afro hair feminino e as técnicas cirúrgicas de escolha para esses casos foram trazidas em pauta, com temas como raspar ou não, técnicas FUT, FUE, ou combinada. E ainda, como tratar as cicatrizes; complicações; segunda abordagem cirúrgica, dicas e pérolas, como ter uma boa cobertura no cabelo afro, terapias pós-transplante , implantação de linha frontal, preenchimento de coroa, micropigmentação em pacientes afro hair e sobretudo a utilização do Body Hair para melhorar as densidades, linhas frontais, preencher barbas, entre outras.
Tudo isso com aulas ministradas por grandes nomes que engrandeceram o evento, como os Drs. Henrique Radwanski, Ruston, Marcio Wolkveis, Francisco Le Voci, Fernando Basto, Anna Cecília Andriolo, Meena, Tutu, Marcio Crisóstomo e Mary Matsuda.
Ainda pudemos observar de maneira respeitosa e com discussões de alto nível de conhecimento como cada um atua na sua prática diária, desde anestesia, tamanhos de equipes, cuidados pré e pós-cirúrgicos, tipos de materiais, o que mostra que não existe uma maneira única, mas a maneira que melhor se adapta a cada profissional para entregar o melhor pra quem é o motivo de tudo: o paciente.”
Dra. Katia Pilleggi
“Considero o tema do workshop de extrema relevância no cenário do transplante capilar mundial e especialmente no Brasil, em que a miscigenação racial leva a uma diversidade muito grande da curvatura dos fios de cabelo, ter um evento voltado exclusivamente para o cabelo afro foi de uma sensibilidade imensa dos organizadores e de intenso aprendizado para todos que participaram desses quatro dias.
Vimos o impacto que a estética capilar tem no público afro, representando manifestação sócio-cultural, religiosa, política e status econômico, além de auto estima e senso de pertencimento ao grupo. A partir daí, faz-se essencial compreender as angústias e os desejos dessa população, quando buscam tratamento para qualquer tipo de alopecia.
Tem empatia, sensibilidade e respeito ao direcionar questões como manejo diário dos fios, penteados tradicionais, procedimentos químicos de salão, como alisamentos, por exemplo e conhecer as alopecias mais frequentes nos pacientes afro são fatores que possibilitam um atendimento mais eficaz e humanizado.
Os palestrantes foram extremamente generosos em compartilhar todo o conhecimento, não só sobre o transplante capilar tradicional, mas também especificidades em relação ao cabelo afro utilizando pelos corporais, transplante de barba e transplante de supercílios, demonstrando diversas técnicas específicas para otimizar a extração e implantação dos enxertos nesse tipo de cabelo, como por exemplo testar vários tipos de punchs, rotacionar o punho na direção da curvatura do cabelo, não aprofundar na extração, adequar velocidade, rotação e oscilação, usar tumescência para retificar um pouco os fios, entre muitas outras dicas valiosas dos maiores experts do Brasil e do mundo.
Pudemos também conhecer diversas tecnologias para a extração das unidades foliculares, com seus prós e contras e, com isso, fazer a escolha da aparelhagem mais adequada à realidade de cada um.
Considero a fase de planejamento e execução da hairline, uma das mais importantes do transplante capilar e esses temas tiveram bastante destaque no workshop, evidenciando a importância de uma adequada avaliação do paciente, de respeitarmos as proporções faciais e a individualidade de cada um, e de selecionarmos adequadamente os enxertos dessa região, além de direcionar os fios no mesmo sentido dos fios naturais do paciente e criarmos uma linha irregular e assimétrica, para atingir um resultado natural. Técnica, nesse caso, é mais importante que densidade, visto que o cabelo afro aparenta uma densidade maior, devido sua curvatura e volume que naturalmente proporciona.
O transplante capilar na região da coroa também tem muitas particularidades e, apesar de não ser esteticamente tão importante quanto a hairline, exige muita destreza do cirurgião pois os fios mudam constantemente de angulação e direção, além de ser uma área que exige uma grande quantidade de fios, podendo representar um verdadeiro buraco negro da restauração capilar. Oferecer expectativas realistas ao paciente quanto à possibilidade de restauração desse local e quantos procedimentos podem ser necessários é a atitude correta e ética que devemos ter.
Me chamou a atenção a técnica do Pico da Montanha, apresentada e publicada pelo Dr. Ito Meireles, na qual ele faz uma bonita observação do padrão natural da linha da barba entre o tragus e a comissura labial e transfere essa arquitetura para o transplante de barba, gerando uma linha natural e replicando a densidade natural da barba nessa localização.
Ainda, a aula sobre como começar a praticar o FUE long hair foi muito elucidativa e traz luz a essa técnica que tem uma curva de aprendizado maior e portanto exige ainda mais destreza e habilidade do cirurgião, especialmente com o cabelo afro.
Como qualquer procedimento, o transplante capilar não é isento de complicações e essas complicações também foram abordadas no workshop. Saber como lidar com casos adversos é uma grande qualidade e um grande diferencial do cirurgião capilar.
Por fim, acompanhamos cirurgias em tempo real e o primeiro pós operatório dos pacientes, uma grande oportunidade para observar os melhores cirurgiões capilares do Brasil e do mundo em ação.
Para uma cirurgiã capilar que está apenas começando a entrar nesse mundo do transplante capilar, foi uma dádiva esse encontro com especialistas que eu tanto admiro. Me senti muito acolhida no evento e é muito perceptível a generosidade em compartilhar o conhecimento de todos que palestraram lá.”
Dra. Luciana Patricio
O workshop foi um evento de grande importância para todos que tiveram a grata oportunidade de participar. Tivemos a participação de palestrantes nacionais de referência na área de transplante capilar e também de palestrantes internacionais que ajudaram a abrilhantar o evento. Foram abordados excelentes temas.
Gostaria de destacar o transplante de barba que, para dar mais notoriedade ao tema, tivemos uma cirurgia ao vivo com o Dr. Ito Meireles. O transplante de barba vem crescendo em todo o país. Abordar este tema, incluindo expectativas psicológicas dos pacientes, detalhes técnicos para acrescentar naturalidade, como realizar o desenho de picos de montanhas, e ainda utilizar de conhecimentos estéticos para melhorar o contorno e o aspecto angulado da face, foi extremamente relevante.
Outro tema que vem sendo abordado nos congressos da ABCRC e que sempre tem relevância é a fundamental importância da associação de tratamentos clínicos para otimização de resultados cirúrgicos. Nesse contexto, destaco um segundo tema muito importante apresentado pelo professor Dr. Francicso Le Voci: a ledterapia. Esta terapia vem se consolidando com um papel complementar para otimização de resultados dos tratamentos clínicos e cirúrgicos, tendo sido cada vez mais utilizada no dia-a-dia e cada vez mais estudada. Destaco que outros temas de relevância também foram abordados.
Portanto, o Afro Hair foi um evento de alto nível que contribuiu de forma importante para atualizações em técnicas cirúrgicas e clínicas de tratamento dos pelos do couro cabeludo, barba e ainda sobrancelhas.”
Dr. Ruan Barboza Oliveira