Dr. Leopoldo Duailibe
Uma análise clínica
O texto abaixo abordará os principais aspectos da tricologia clínica em relação às possíveis patologias que podem acometer as sobrancelhas. Já deixando claro ao leitor que não será abordado sobre a técnica desse tipo de cirurgia.
O transplante de sobrancelhas é um procedimento que vem crescendo ao longo dos últimos anos e que, por diversos motivos como expansão da área de atuação, busca por novos nichos ou mesmo por demanda espontânea dos pacientes, vem gerando muita curiosidade nos colegas mundo afora.
No entanto, antes de nos aventurarmos nesse tipo de cirurgia é extremamente importante que saibamos não somente a técnica, mas também excluir possíveis doenças que podem ter levado à rarefação das sobrancelhas. E que se não diagnosticadas previamente, pode levar a resultados insatisfatórios no pós-cirúrgico.
Como sempre, o contexto global, examinando o paciente por completo ajuda e muito em buscarmos o diagnóstico mais adequado. Por exemplo, uma senhora de 60 anos com recuo da linha de implante capilar e rarefação de sobrancelhas que não apresentou repilação espontânea ao longo dos anos, muito provavelmente tem alopecia frontal fibrosante e não alopecia areata. Esse caso clássico de AFF parece simples, como a grande maioria, mas casos iniciais podem ser uma armadilha e a tricoscopia das sobrancelhas é uma ferramenta fundamental para nos auxiliar.
Alopecia Frontal Fibrosante (AFF)
Em pacientes com alopecia frontal fibrosante mais de 50% dos casos começam com acometimento das sobrancelhas e somente depois que irá iniciar a rarefação do couro cabeludo. Portanto, nos casos mais iniciais o diagnóstico pode ser mais difícil. A tricoscopia das sobrancelhas pode apresentar sinais sugestivos de atividade da doença como pontos pretos e fios distróficos, além da rarefação capilar.
Alopecia Frontal Fibrosante – tricoscopia das sobrancelhas: rarefação capilar difusa, pontos pretos e fios distróficos
Observem na figura que esses sinais se apresentam de forma difusa. Esse é um ponto importante quando queremos diferenciar de sobrancelhas que foram “feitas” em salão de beleza. Nesses casos, podem existir pontos pretos pelo arrancamento dos fios, porém se dispõe mais na periferia da sobrancelha do que difusamente e a rarefação tende a ser menos pronunciada.
Curiosamente, raramente encontramos a descamação perifolicular classicamente descrita no couro cabeludo. Por isso, a ausência desse achado tão comum em outras áreas, não deve eliminar a suspeita de AFF.
A epidemiologia nesses casos também é extremamente relevante. Sempre considerar que a AFF é mais frequente em mulheres, caucasianas e que estejam no período perimenopausa.
Tração/Tricotilomina (TTM)
Já comentamos brevemente sobre um dos tipos de tração acima. Aqueles causadas por mulheres que “fazem” a sobrancelhas no salão. Nesses casos, os sinais descritos são restritos à periferia das sobrancelhas e, em geral, não há outra causa de queda de cabelo correlacionada. Mais comumente em jovens podemos observar rarefação difusa das sobrancelhas, podendo estar associado ou não ao acometimento conjunto do couro cabeludo. Na tricoscopia, sempre fundamental, podemos observar os mesmos sinais de pontos pretos e fios distróficos. Mas, além disso, muitos fios quebrados/fraturados, aspecto em vassoura e caracteristicamente apresentando diversos comprimentos Esse aspecto caótico na tricoscopia tem que ser associado com tricotilomania. Tricotilomania – tricoscopia: aspecto caótico com fios fraturados em diversos comprimentos
O ato compulsivo de arrancar os fios com os dedos leva a fratura dos fios em diferentes pontos das hastes de cabelo, levando aos diversos sinais tricoscópicos e aspecto caótico. Apesar de a maioria desses pacientes com TTM serem jovens, adolescentes ou mesmo crianças sendo menos provável uma possível indicação cirúrgica, vale a lembrança desses casos, pois podem surgir no consultório. Alopecia areata (AA) Essa doença talvez seja o maior fator que cause confusão com a alopecia frontal fibrosante e que a clínica e a epidemiologia serão muito importantes para diferenciá-las.
Em pacientes com AA acometendo sobrancelhas os sinais tricoscópicos são muito semelhantes aos da AFF, como os pontos pretos e fios distróficos A rarefação é mais localizada, ou seja, uma parte da sobrancelha apresenta acometimento mais proeminente. Porém, também pode ocorrer rarefação difusa. Muitos casos vão se apresentar unilateralmente, o que também ajuda a diferenciar de AFF, pois nessa é bilateral.
Em relação à epidemiologia, o primeiro episódio de AA ocorre mais comumente em crianças ou adultos jovens, e mais raramente em adultos/idosos. Esse é outro importante dado, pois em AFF ocorre em idade mais avançada.
Em casos suspeitos das duas doenças, por exemplo, uma mulher branca com rarefação bilateral recente e sem acometimento de couro cabeludo, o mais indicado seria fazer uma biópsia de sobrancelha para diferenciar AA e AFF, pois nesses casos a tricoscopia é limitada. Uma alternativa é acompanhar com imagens seriada a cada 3 meses a evolução das sobrancelhas e do couro cabeludo. Constitucional Essas pacientes não apresentam rarefação difusa e homogênea das sobrancelhas com afinamento dos fios sem sinais tricoscópicos como eritema, descamação perifolicular, fios dristróficos ou pontos pretos.
Na Figura 3, observe um esquema de diferenciação dos vários tipos de patologias acometendo as sobrancelhas.
Padrão mais comum de acometimento nos diferentes tipos de patologias
Edição 26, artigo 8.