Paulo Müller Ramos, MD, PhD
Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo – UNESP
Coordenador do ambulatório de Tricoses da UNESP
Steven Kossard.
Arch Dermatol. 1994; 130:770-774
https://jamanetwork.com/journals/jamadermatology/article-abstract/555809
A alopecia frontal fibrosante (AFF) é a alopecia cicatricial primária mais prevalente na atualidade.1 Não existem dados precisos da evolução da sua incidência, porém observou-se aumento explosivo desse diagnóstico em centros especializados de diversas partes do mundo ao longo dos últimos anos.2
Nos dias atuais, dificilmente um cirurgião de restauração capilar não irá se defrontar com casos de AFF em sua prática. A procura pode ocorrer por pacientes que já apresentem diagnóstico estabelecido ou mesmo por aqueles que busquem restauração da linha anterior ou das sobrancelhas sem ter um diagnóstico. Portanto, é fundamental que o cirurgião saiba identificar casos precoces e, caso não se sinta confortável em conduzir o tratamento clínico, encaminhe para especialista com treinamento adequado. A cirurgia só deve ser considerada após estabilização clínica e clara orientação ao paciente da possibilidade de progressão da perda capilar a médio prazo.3
A AFF foi descrita pelo dermatologista e dermatopatologista australiano Steven Kossard em 1994.4 Em seu artigo original ele descreve seis mulheres na pós-menopausa que apresentavam alopecia de toda a linha anterior com ausência de aberturas foliculares e eritema peripilar. Três pacientes também apresentavam rarefação das sobrancelhas. Todas as pacientes foram submetidas a avaliação histológica que evidenciou redução das unidades foliculares com substituição por tratos fibrosos e infiltrado linfocítico na região do istmo e infundíbulo, padrão histológico idêntico ao líquen plano pilar.4
Outros comemorativos da AFF como pápulas faciais, vasos proeminentes na região frontal e comprometimento de pelos corporais foram posteriormente descritos,5 porém é interessante observar que os principais elementos epidemiológicos, clínicos e histológicos da doença foram apresentados de maneira clara e detalhada pelo Prof. Kossard já nessa primeira descrição. Mesmo após quase três décadas da sua publicação, o seu texto permanece completo, preciso e atual.
Por muito tempo discutiu-se se de fato a AFF era uma nova entidade ou apenas uma doença rara que ainda não tinha sido descrita. O aumento galopante da sua incidência, especialmente na última década, encerrou essa discussão e trouxe outras ainda mais inquietantes a respeito da sua etiologia e possíveis gatilhos ambientais.6
A AFF apresenta difícil tratamento, impacto negativo intenso na qualidade de vida e frequência crescente. A descrição tão minuciosa dessa entidade faz desse artigo um dos mais importantes da tricologia nas últimas décadas.
REFERÊNCIAS:
1. Vano-Galvan S, Saceda-Corralo D, Blume-Peytavi U, et al. Frequency of the Types of Alopecia at Twenty-Two Specialist Hair Clinics: A Multicenter Study. Skin Appendage Disord 2019;5:309-15.
2. Mirmirani P, Tosti A, Goldberg L, Whiting D, Sotoodian B. Frontal Fibrosing Alopecia: An Emerging Epidemic. Skin Appendage Disord 2019;5:90-3.
3. Vano-Galvan S, Villodres E, Pigem R, et al. Hair transplant in frontal fibrosing alopecia: A multicenter review of 51 patients. J Am Acad Dermatol 2019;81:865-6.
4. Kossard S. Postmenopausal Frontal Fibrosing Alopecia: Scarring Alopecia in a Pattern Distribution. Archives of Dermatology 1994;130:770-4.
5. Vañó-Galván S, Molina-Ruiz AM, Serrano-Falcón C, et al. Frontal fibrosing alopecia: a multicenter review of 355 patients. J Am Acad Dermatol 2014;70:670-8.
6. Ramos PM, Anzai A, Duque-Estrada B, et al. Regarding methodologic concerns in clinical studies on frontal fibrosing alopecia. J Am Acad Dermatol 2021;84:e207-e8.
Edição 26, artigo 5.