Suspensão da venda de pomadas capilares pela Anvisa após consumidores relatarem cegueira temporária
Dra. Adele Gonzáles
Em 12 de janeiro de 2023, foi publicada no Diário Oficial da União por meio do Ministério da Saúde/Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a resolução n. 138 cancelando a produção de uma pomada capilar antifrizz. Em 16 de janeiro, mais 7 pomadas capilares de 5 marcas distintas tiveram sua fabricação suspensa e no início de fevereiro a mídia divulgou diversos casos e entrevistas com pessoas que sofreram reações após uso dos produtos. No mês de fevereiro, por precaução, a ANVISA decidiu suspender a comercialização de todas as mais de 3.000 pomadas para modelar, trançar e fixar. Na última semana de março, após investigações preliminares, o órgão decidiu liberar 934 produtos para retorno ao mercado e divulgou em seu site lista com os produtos. Dentre as medidas adotadas já anteriormente, segue com o recolhimento dos produtos proibidos e autuação dos estabelecimentos que seguirem com a comercialização ou uso das pomadas.
As pomadas em sua maioria possuem indicação alisadora, antifrizz e modeladora, apresentando em sua composição ativos e conservantes de ação potentes. Observou-se aumento dos relatos na época do verão, chuvas e blocos pré-carnaval e isso se justifica pelos relatos de que, quando a chuva e suor caem sobre os cabelos, o produto escorre até os olhos causando as reações adversas.
Segundo oftalmologistas, ocorre uma espécie de queimadura/abrasão química na córnea gerando dor intensa, hiperemia, lacrimejamento excessivo, turvação visual e cegueira temporária. Não houve relato de perda visual irreversível, até o momento, mas já foram computados entre início do ano e carnaval mais de 780 casos relacionados ao uso dos produtos, como consta na página online da ANVISA. Além dos efeitos oculares há queixas de queda capilar e cefaleia.
Em entrevistas divulgadas com oftalmologistas em diversos sites, como UOL, ESHoje, Rede Band e outros, os mesmos citam que, dentre as substâncias investigadas como possíveis causadoras dos danos, estão o metilcloroisotiazolinona (MCI) e a metilsotiazolinona (MI) (conservantes) e propilenoglicol, mas a informação ainda não foi confirmada pelos órgãos públicos, que agora também levanta a hipótese da substância Ceteareth-20 ser a causadora dos sintomas ao ser encontrada em alta porcentagens nas pomadas apontadas pelos pacientes. Ceteareth-20 é um álcool graxo naturalmente encontrado em óleo de coco e palma, utilizado para emulsionar e dar viscosidade a produtos capilares. As pomadas recém-liberadas precisam conter no máximo 20% da substância. As medidas tomadas são provisórias até que sejam estudados os componentes e malefícios das pomadas.
As orientações do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) para acidentes em geral são lavar os olhos com água fervida ou filtrada e procurar atendimento oftalmológico o mais rápido possível.
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