Transplante capilar após o câncer: o que é possível, o que é mito

Publicado em

18/06/2025

Por Dr. Márcio André Volkweis, dermatologista e tesoureiro geral da Associação Brasileira de Cirurgia da Restauração Capilar (ABCRC)

A perda de cabelo é uma das consequências mais visíveis — e emocionalmente desafiadoras — do tratamento contra o câncer. Durante a quimioterapia e a radioterapia, os folículos capilares são afetados, e o organismo, como um todo, está mais fragilizado. Nesse período, qualquer procedimento cirúrgico, como o transplante capilar, é contraindicado. No entanto, passado o tratamento, muitos pacientes começam a se perguntar: será que posso recuperar meu cabelo com um transplante?

Em primeiro lugar, é importante entender que em grande parte dos casos a queda capilar é temporária. Com o fim do tratamento e a recuperação do organismo, os fios tendem a voltar a crescer espontaneamente. Mas há exceções. Alguns medicamentos, como os taxanos — muito usados no tratamento do câncer de mama, podem causar alopecia permanente1. Segundo o National Cancer Institute, até 23% dos pacientes tratados com esse tipo de quimioterapia apresentam perda persistente de cabelo2. Além disso, a radioterapia localizada no couro cabeludo também pode provocar danos irreversíveis aos folículos.

Nesses casos, o transplante capilar pode ser uma alternativa viável, desde que avaliada com critério. Em geral, recomenda-se aguardar entre seis meses e um ano após o término do tratamento para que o corpo esteja plenamente recuperado. É indispensável a liberação do oncologista e a realização de exames que comprovem a estabilidade clínica do paciente.

Essa possibilidade de reconstrução capilar vale tanto para homens quanto para mulheres. Embora a calvície masculina seja mais comum, a alopecia induzida pelo tratamento contra o câncer pode afetar igualmente pacientes do sexo feminino, especialmente aquelas em tratamento contra o câncer de mama¹. Para essas mulheres, o transplante capilar também pode representar um passo importante na recuperação da autoestima, desde que haja avaliação médica criteriosa e condições clínicas favoráveis.

Em todos os casos, a decisão de fazer um transplante deve levar em conta diversos fatores: a saúde geral, o tipo de alopecia, a presença ou não de áreas doadoras viáveis e, claro, as expectativas do paciente. Mais do que uma solução estética, a restauração capilar, para quem enfrentou o câncer, pode ser simbólica — um gesto de retomada da autoestima e da identidade.

É fundamental, no entanto, buscar profissionais qualificados, com experiência em transplantes e sensibilidade para lidar com esse perfil de paciente. A segurança deve vir sempre em primeiro lugar. Evitar clínicas sem supervisão médica ou com promessas milagrosas é essencial para garantir não só o resultado, mas a saúde do paciente como um todo.

Falar sobre transplante capilar após o câncer é também falar sobre recomeço. Com informação, acolhimento e cuidado, é possível considerar essa possibilidade, com responsabilidade e esperança.

Referências:

1. European Journal of Cancer Care - “Permanent hair loss associated with taxane chemotherapy use in breast cancer: A retrospective survey at two tertiary UK cancer centres” - Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/ecc.13395 - Último acesso: 15.maio.2025

2. Chan J, Adderley H, Alameddine M, Armstrong A, Arundell D, Fox R, Harries M, Lim J, Salih Z, Tetlow C, Wong H, Thorp N. Permanent hair loss associated with taxane chemotherapy use in breast cancer: A retrospective survey at two tertiary UK cancer centres. Eur J Cancer Care (Engl). 2021 May;30(3):e13395. doi: 10.1111/ecc.13395. Epub 2020 Dec 22. PMID: 33350015.

Fonte:

ABCRC

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